"Alface" reúne quatro bandas curitibanas relevantes dentre as bandas independentes brasileiras da primeira metade da década de 90. Também são bandas importantes na história do rock produzido na capital do Paraná, vale lembrar que neste período Curitiba se notabilizava nacionalmente pela grande quantidade de bandas em atividade e pela variedade de estilos e vertentes do rock que estas bandas apresentavam.
O disco foi produzido cooperativamente pelas bandas participantes e teve apoio da Fundação Cultural de Curitiba, lançado e distribuído nacionalmente pelo selo paulistano Banguela Records – propriedade de Carlos Eduardo Miranda e dos Titãs.
Das quatro bandas apenas o Resist Control não havia gravado nada anteriormente. O Boi Mamão já tinha um compacto com quatro canções, lançado em 1993 pelo selo Bloody Records (propriedade de JR Ferreira, incansável produtor e incentivador do underground curitibano). Woyzeck e Magog já haviam participado, com mais outras três bandas curitibanas, da coletânea “Curitiba In Concert”, lançada em 1994 pelo selo One Hit, com tiragem limitada e distribuição local.
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General, Edição 11 |
Em “Alface” cada banda tem quatro canções e quem abre o disco é uma das mais inventivas bandas brasileiras daquela época, o Boi Mamão. Este quarteto indecifrável é um dos pioneiros do Math Rock nacional, o som é uma grande mistura de riffs de guitarra pesados, estruturas quebradas de bateria e baixo somadas ao vocal insano de Glerm Pawdphita, à cantar insanidades (não me atrevo a descrever as letras, mas, “Kronkanildo” é um clássico imediato). A canção “Café com leite” tem a participação de Chico Science nos vocais, e na outras canções também aparecem outras figurinhas curitibanas, como os Pinheads Julio e Dudu, Sergio Sofiatti e o produtor de 90% da cidade, Vitor França.
A segunda banda é a debutante Resist Control, liderada pelo vocalista Daniel “Azulai” Martins (não, não é o grande desenhista e o criador da turma do lambe-lambe, Daniel Azulay). A banda fazia um som bastante identificado com o rap-core, que era um gênero forte no Rio de Janeiro, não por acaso, a banda participou posteriormente da coletânea “Paredão”, lançada pela EMI, que reunia mais cinco bandas cariocas, sendo duas identificadas com o rap-core, Poindexter e Funk Fuckers, única exceção dentre às guanabaras é o Resist Control. A banda alcançaria uma longevidade e notoriedade, fez muitos shows e lançou dois discos, “Resist Control” e “Cesariana”.
A terceira banda é um dos grandes nomes da cena curitibana, uma “big band” chamada Woyzeck. Esta banda era um poço de criatividade, produzia um som to tipo liquidificador de estilos e unia "rock-baião-repente-fandango-e-tudo-mais-que-coubesse-no-balaio", com letras muito bem sacadas, deixou o clássico local “Putaria Franciscana”. Também gravada no único CD próprio - e milionário, devido ao grande investimento - “Quebra-Queixo” (de 1999). As formações locais dessa época, o Woyzeck é a banda que tinha a maior comunicação com tudo o que acontecia de inovador e popular naquele momento da música brasileira, outrora chamado pela Bizz de MpopB.
A última banda da coletânea é o Magog, quarteto liderado pelo vocalista e guitarrista Cassiano Fagundes, que, segundo Jack Endino, fazia o que deveria se chamar de Heavy Metal. Entretanto, é mais possível encontrar influências nas bandas norte-americanas como o TAD, e mesmo o veterano Neil Young. Se o grunge não tivesse sido inventado em Seattle, o Magog teria feito aqui. A faixa de abertura, “Bark”, tem tablas - por Luciano Vassao, também guitarrista. “Eggs” é uma canção estradeira, com guitarra dilacerante. O "hit" “Fun” faz parte do début da banda, a coletânea “Curitiba in concert”. O Magog não deixou registro solo. “Alface” é uma amostra dessa diversidade da cena curitibana e brasileira, um registro da época em que uma parte das bandas brasileiras respondia pelas “bandas de Curitiba”.